sábado, janeiro 31, 2009

Modistas e modinhas

A sociedade é um ambiente em que inúmeras pessoas convivem e compartilham, mesmo que a contragosto, de anseios, medos, utensílios do dia-a-dia e, evidentemente, opiniões.

Não de forma literal, é claro que ninguém escovará os dentes com sua escova. Mas, assim como você, irá ver o comercial da escova Colgate 360° e vai comprar! Quem não gostaria de ter uma escova falante?

Essa é a nossa cultura de massa, os grandes conglomerados transmitem suas propagandas para milhões e milhões de pessoas, buscam ser o mais ecléticos possível e obter o máximo de público, e, na maioria das vezes consegue.

Esse movimento, a cultura de massas, surgiu e teve seu ápice com a explosão tecnológica da televisão. Este é um veículo de entretenimento com uma grade de programação fixa, você pode morar no Oiapoque ou no Xuí, acabará vendo a novela das oito às 21:15 na globo. Exceto em casos de fuso horário diferente, o que não é relevante.

Estar in era gostar do que todo mundo gosta, era vestir o que todo mundo veste, seguir as tendências, viver na cultura universal.

A explosão do novo veículo de comunicação está invertendo tudo isso, após o rádio veio a televisão, e agora está vindo a internet. Dentro de alguns anos você não verá mais uma programação fixa de televisão, e seim escolherá o que quer assistir e quando quer assistir nos sites das grandes produtoras; desde o episódio da sua série predileta em que você parou até um filme iraniano caso tenha acordado meio indie.

Falarei mais detalhadamente sobre essa mudança estrutural no universo das comunicações em outra ocasião. O que nos interessa no momento é a alteração estrutural do pensamento consumista que isso resulta.

Com a internet você não vê mais o que te mostram, vê o que você quer ver.

Os papéis se inverteram, não é mais cool acompanhar as modas, e, sim, fugir delas! Se você vê o que todo mundo vê você é modista, se vai aonde todos vão é modista, se veste o que todo mundo veste é modista.

A internet influenciou nessa equação adicionando uma quantidade bizarra de informação nas pessoas. O conteúdo é quase que individualizado, porque todo mundo o produz. Você tem um blog, mas também acompanha outros blogs, e os donos dos blogs que você acopanha acompanham o seu. Tudo ao mesmo tempo agora.

Na minha época, se não assistisse Cavaleiros do Zodíaco na Manchete eu seria um ET; hoje, se vejo Naruto no SBT sou um modista. Talvez não para grande parte da população, mas para quem já possui uma cultura de internet, essa é a realidade. E em breve será a realidade de todos.

Sim, caros, os nerds dominarão o mundo.

Isso, evidentemente, é maravilhoso; a democratização do conhecimento permite que pessoas comuns compartilhem suas experiências com as demais, e não apenas mega-gênios autistas.

Mas tem seu lado negativo, também. Se você era descartado se não soubesse que Goku corta Freezza ao meio antes de Namekuzeidin explodir hoje você o é se sabe que esse é o meu jeito ninja, tô certo!

A grande maioria das coisas que você faz é taxada de ‘modinha’, por fazer parte de uma cultura de, ou ao menos destinada às, massas.

Em ambos os casos o excesso peca, antes por taxar pessoas que buscavam culturas alternativas; agoro porque a cultura de massa não é totalmente ineficaz, se chegou a ser de massa é porque possuiu qualidade para tal, em algum momento, ao menos.

Vale ainda o argumento, claro, de que isso em muito se deve ao fato dela ser absurdamente genérica, tão diluída para agradar todos os publicos que perdeu o valor individual aclamado pelos novos undergrounds. Indies.

A grande contradição é que o anti-modismo virou uma moda. Todos são anti-modistas e caem no mesmo buraco daqueles a quem combatem. Seria como fazer uma comissão para implantar o anarquismo, algo sem sentido. E os fóruns de toda internet adotaram esse movimento social; movimento mesmo, não me parece ser uma bolha, e, sim, uma tendência, que, com o crescimento da internet, irá se massificar e destruir a si mesmo.

Como uma banda indie que faz muito sucesso ao ponto de se tornar pop e, aí então, perde todo sucesso pelo grave crime de ter conseguido muito sucesso! Ou como programas como o Pânico na Tv, que teve seu grande ás em ser inovador no ramo da comédia e ruiu nesse sentido por se tornar batido, tendo que apelar para pornografia e piadas sem graça; o mesmo que ocorreu com a série American Pie.

O mundo da publicidade já atentou para este fato, não é só o YouTube a única experiência nesse sentido; alguns sites disponibilizam programas de TV, em alta definição, sem o aspecto pragmático das grades.

Comerciais de TV, aqui mesmo no Brasil, vão nesse sentido; e isso pode se notar naquela que eu considero a melhor indústria de comerciais atual: A automobilística. Não me lembrarei por nome, mas um desses mostra vários carros rodando em discos, quando surge um que frea e foge; outro mostra um 4x4 seguindo uma trilha de labirinto definida quando, de repente, acelera e detona as paredes fugindopara a liberdade e para o horizonte!

E, se não me engano, o Terra veiculou um que falava diretamente disto, mostrando pessoas em enormes filas, com objetos idênticos na cabeça (panela de pressão, lol) e criticando aqueles que seguem as modinhas.

Ironia ao máximo, um site da internet, a responsável por esse movimento, veiculando essa propaganda no no canal que morrerá graças a ela, a televisão.

Estamos em um mundo de infinitas bolhas, que surgem e estouram assim que adquirem tamanho suficente para serem vistas.

O fim das culturas de massa se vê na falência das grandes produtoras musicais e até mesmo cinematográfias. Esse movimento e o fim dos grandes investimentos diminuírão a qualidade do produto cultural? Criarão uma dependência ainda maior do que a já absurda pela informação? É um fim mesmo, ou apenas uma reinvenção?

Escreva, produza, crie. Se ninguém o vir, serás um sucesso.

Discordem de mim!

12 comentários:

Eduardo disse...

Tá certo que hoje em dia é cada vez mais comum querer ir contra a massa, mas a porcentagem de pessoas que a seguem ainda é MUITO maior do que os que vão contra... Uma prova disso são os níveis de audiência/pessoas comentando coisas como Big Brother ou novela...

E a comparação entre ser excluído por não ver CDZ e por ver Naruto é meio imprópria... Quer dizer, da mesma forma que antigamente era normal para uma criança de 8 anos assistir CDZ, é normal pra alguém dessa idade assistir Naruto... E anormal que alguém de 18 assista ambos...

Bráulio Oliveira disse...

Sim, como indiquei, é uma tendência! Acho que o futuro será este, apesar da bolha da televisão ainda estar se sobressaindo.

E é o que ocorre com os pivetes, talvez hoje não, mas quando a internet ultrapassar a TV, alguém que siga moda será taxado. Com o 'naruto' da época.

Eduardo disse...

O fato de você poder escolher o que você quer assistir não muda o fato de que você não seguirá uma moda!

Bráulio Oliveira disse...

Mas te dá uma opção.

E a partir do momento em que você tem opção você pode ser cobrado por suas decisões. Assim pode ser taxado de 'modista'.

E é exatamente o que ocorre, mas veja que não sou a favor disso, porque nada é isento de ser uma 'moda'. É como disse, é uma grande ironia contraditória, você busca coisas alternativas, e a partir do momento que estas são divulgadas deixam de ser alternativas.

Thyago disse...

Acho que sou do tipo do cara que segue modinhas quando o agrada e vai CONTRA elas quando as mesmas o desagradam.

Desde pequeno me preocupei pouco com a opinião alheia no que eu escolhia gostar ou não. Se mais alguém gostava daquilo, ótimo, se não, foda-se. E faço isto até hoje, em tudo o que faço.

Por exemplo, ninguém daqui de casa gosto do que eu gosto, compreende o que leio, aprecia o que escuto. Aliás, fazem mais é criticar, como toda boa família faz, afinal, não há nada melhor para um pai do que um filho esterotipado.

Batsuman disse...

ahm... sinceramente... isso de modistas e modinhas é uma "guerra civil". é o tipo de discussão que só ocorre dentro de um grupo muito pequeno de pessoas, se vc pensar no mundo como um todo.
se vc pensar em todas as pessoas que vc conhece pela internet.. uau! sim! é algo que está tomando o planeta! mas é só vc sair de casa que verá que não é bem assim.
basta ver daonde são seus amigos de internet.. são todos da sua rua? seu bairro? ou são pingados do país inteiro? isso quer dizer que vc está dentro de um grupo seleto de pessoas que tem a internet como uma "forma de vida".... são nerds.. dentre todos os meus amigos daqui da minha cidade, poucos sabem quem é naruto, menos ainda sabem o que é One Piece, logo, dizer a eles que OP>Naruto não significa nada.
a ansiedade por ser "diferente", por ser um "destaque" é tão grande que está fazendo os "nerds" agredirem a si mesmos.. essa hitoria de modinha é uma "guerra civil"

Bráulio Oliveira disse...

Animes e mangás são uma face dessa nova realidade, a de onde você me conhece, Yosh, mas não creio que seja a 'única'.

Tanto o é que dei os exemplos dos comerciais de carro e o comercial do Terra. Que, evidentemente, não foram destinados a otakus.

Isso ocorre em todos ramos da sociedade, ir contra modinhas é ver um show de galpão de uma banda de rock independente e não ir pro show da Madonna. É comer um cachorro-quente na esquina e não um McLanche Feliz.

A internet foi só o veículo que impulsionou essa mudança que ainda está em curso.

A geração passada talvez não entre nessa mesmo, mas o futuro, bem será o futuro. Ninguém sabe como, mas dá para prevêr algumas tendências. XD

denn2ya disse...

hm nossa bacana até já me imagino no futuro eu com a minha banda assim a gente bem 'aff' sabe bem assim num mundo super poluído cinza escuridão reclamando que "aff não sei o quê não sei o quê" mas tá fmz, futuro sinistro, calamidade, amor e paz, vlw pessoal. 2

Unknown disse...

Grande texto, Paco. Gostei muito mesmo. Bem escrito e bem argumentado. =)

Agora meu comentário...

Acho que não adianta, é do ser humano seguir modas, que não são nada além do que seguir o grupo em que se está inserido. Mudam as mídias, mas essa verdade permanece. E, na minha opinião, a internet não impulsiona a mudança.

Claro que com a dgitalização tomando conta abrem-se infinitas opções, uma abrangência e um alcance muito maiores que a TV convencional.

Mas pessoas continuarão copiando pessoas, mesmo com a possibilidade de cada um poder ver e adquirir o quer na hora desejada. E com a rede isso aumenta, pois há mais (e maiores) "grupos" a se seguir.

O ser humano em geral necessita que outros estejam fazendo (ou consumindo) a mesma coisa que si, para se sentir validado. É o caso da ironia das coisas alternativas virarem moda. E o que proporcionou isto? Justamente a World Wide Web, que deveria ser a libertária.

Você citou um exemplo de ir contra modinhas na sociedade, que seria ver um show de galpão de uma banda de rock independente e não ir pro show da Madonna. Mas o que fez muito mais pessoas descobrirem o universo das bandas de galpão e impulsionou seu sucesso, fazendo-as virarem moda? A internet. As bandas cult estão se tornando populares, porque seus antigos fãs colocam vídeos no Youtube e comentam sobre elas na rede, despertando o interesse de outros e mostrando que pode-se gostar de um som diferente sem ser "estranho".

Antes os "alternativos" ficavam isolados por terem gostos diferentes, ou escondiam suas preferências e era difícil encontrar afins. Com o advento da rede, passaram a achar seus "iguais" e formarem seus grupos. Pois com tanta gente no mundo com acesso à internet, você pode ter o gosto mais peculiar e ser a pessoa mais fora dos padrões e ainda assim achará quem compartilhe. Daí haja comunidades no orkut, listas enormes de contatos no MSN e muitos se conhecendo e se tornando amigos na vida real.
Anteriormente o meio familiar e amigos eram como moderadores de conduta. Agora os próximos podem achar ridículo você ter 359 tatuagens, mas e daí? Tem 10 mil comunidades do Orkut e 459 amigos da internet que dizem que não é. A tal da validação. E as empresas, que não são nada bobas, vaõ sempre se utilizar disso pra moldar as tendências, criar modinhas e vender seus produtos. Só terão de ir adaptando o jeito de fazer propaganda com o tempo.

Um exemplo que eu acho que ilustra isso bem é o paradoxo em que vivemos atualmente... a moda da "personalização". Quem buscava produtos "exclusivos", customizados ao gosto pessoal, eram justamente os poucos que queriam se destacar da massa. Já hoje em dia todo mundo quer tudo personalizado. O que você falou do "ser alternativo virou moda". Na busca por ser diferente, a maioria acaba ficando igual de novo.

Claro que existe MUITA gente que se assume como é, sem precisar seguir um grupo. Mas há MUITO MAIS pessoas que fazem o oposto, então penso que sempre existirão a cultura de massa e as modinhas. =/


Eita, meu comentário ficou gigantesco! Desculpa, Paco!!!
É que eu empolgo e acabo sendo prolixa quando é um assunto interessante de discutir! xD

Bráulio Oliveira disse...

Que nada, adorei o comentário! Esse tipo de texto não é feito para servir como manual que você lê e aceita, é justamente para discutir. Adoro discutir! Por isso o 'discordem' no final. XD

A internet serviu, como você mesma disse, para unir pessoas de gostos semelhantes - os alternativos - que antes se isolavam. Com amigos que compartilham gostos eles ouvem falar de uma coisa e de outra e acabam se 'personalizando'. Qual a chance de alguém com tendências indies no interior do nordeste conhecer um Arctic Monkeys da vida? Quase nula. A internet permitiu isso com o agrupamento de pessoas distantes.

E é também um fenômeno paradoxal!

Mais gente buscou as bandas independentes, e muitas viraram pops! Só que tem o outro lado da moeda, com o YouTube mais gente também se aventurou a fazer música, e mais indies surgiram.

É um ciclo de bolhas que nascem, crescem e explodem infinito!

A música é um setor, se você analisar no geral é esse fenômeno da 'personalização' mesmo. A moda é fugir das modas; e o mais engraçado é que esse termo, pejorativo, 'modinha', surgiu exatamente para impulsionar essa moda anti-moda. Hahahahahaha, é um movimento louco. XD

Ah, bem legal seu argumento do 'respaldo'! O humano é um ser social, precisa obter aprovação da sociedade, ou pelo menos de alguém, para fazer o que faz.

Mesmo que seja contrariar a sociedade.

Unknown disse...

Definiu muito bem, Paco:

"É um ciclo de bolhas que nascem, crescem e explodem infinito!"

"A moda é fugir das modas; e o mais engraçado é que esse termo, pejorativo, 'modinha', surgiu exatamente para impulsionar essa moda anti-moda. Hahahahahaha, é um movimento louco.
"

Tudo muito louco mesmo, né? xD

Mas realmente é humano e normal buscar certa validação do meio em que se está inserido. O chato são as pessoas que levam isso a sério demais, ao ponto de anular sua indentidade própria em função da aprovação do grupo. =/

Jaderson disse...

esqueci o que ia falar aki pq não consegui postar por problemas no login, e nem vou reler :P