sexta-feira, novembro 14, 2008

Conceitos de RPG

Ah o RPG... Existe algo que soe tão nerd/anti-social quanto esta famigerada sigla? Ainda lembro-me de quando eu estava no primeiro ano da faculdade e uma garota, ao descobrir que eu não era de sair muito, perguntou-me o que eu costumava fazer aos sábados durante a noite e eu honestamente respondi: "Jogo RPG com os amigos". A reação da garota foi: "Nossa... Mas vocês vão em cemitérios e coisa do tipo?". Por um breve momento fiquei sem palavras, mas logo respondi: "Quase sempre. Mas dessa vez acho que não vamos porque não conseguimos arranjar um cabrito pro sacrifício". Reparei que ela tinha levado minhas palavras à sério quando seu rosto emitiu uma leve expressão de pavor, então tratei de explicar meu sarcasmo... Enfim, bons tempos...

Não, nós RPGistas não somos nerds loucos satanistas fanáticos comedores de criancinhas (bom, pelo menos não todos). Na verdade, como em vários outros grupos de nossa sociedade, muitos de nós desaprovamos os gostos pessoais e modos de pensar uns dos outros. E é principalmente sobre essas diferenças que irei tratar nesse post, assim como algumas críticas que eu tenho a certas coisas do meio RPGístico.



Acontece que já faz alguns anos que eu venho presenciando muitos nerds bitolados ou RPGistas que se importam mais com seus combos de regra, poderes e níveis de seus personagens, do que com o verdadeiro "espírito" do RPG de mesa: a interpretação e a diversão. Claro, não há nada de errado em se preocupar com a capacidade do seu personagem em termos de características e habilidades próprias dentro do jogo, mas o grande diferencial do RPG de mesa é a interação de um jogador com o mestre do jogo e com outros jogadores.

Para me expressar melhor irei mencionar aqui alguns estilos de jogo e comentar minha opinião sobre eles e seus jogadores. O texto também é muito bom para aqueles que não são muito familiarizados com RPG e gostariam de compreender um pouco mais sobre o assunto.

Para começo de história vamos largar qualquer tipo de generalização. Um rpgista não é igual ao outro. Dizer que rpgistas são todos iguais seria como dizer que todas as pessoas são iguais. Então qualquer reclamação que eu faça a um esteriótipo de RPGs ou RPGistas não quer dizer que eu esteja me referindo necessariamente a alguém em específico. Porém, se a arapuca servir, Fodasse x]

Vamos começar da mais pura essência do RPG. A fantasia medieval.

Dungeons & Dragons

O bom e velho D&D (Dungeons & Dragons), que se transformou no AD&D (Advanced Dungeons & Dragons - a última versão do sistema quando eu comecei a jogar), seguido pelo D&D3 ou D20 e que hoje está em sua quarta edição, o D&D4. Claro que vários outros sistemas podem ser usados para histórias de fantasia medieval, como 3D&T, GURPS, entre outros, mas com certeza o D&D é a melhor escolha do estilo. Apesar de suas adaptações para tempos modernos e futuristas, esse sistema é a alma do RPG medieval. Aqui foi onde tudo começou há mais de 30 anos atrás. Não é à toa que este é o RPG mais jogado dentro desse tipo de fantasia.

Porém, o D&D, justamente por ser o RPG mais famoso e jogado pelo mundo, é também aquele que cria o maior número de indivíduos exageradamente nerds. E me refiro àqueles que mal vêem a luz do dia, que quase não saem do porão de casa e não conseguem conversar sobre nada que não envolva um assunto nerd.

Esse é o tipo de RPGista que cedo ou tarde consegue dar nos nervos até em outros nerds! Claro, cada um busca se divertir do jeito que bem entender, só acho que é melhor evitar chegar a esse ponto. Um jogo não passa de um entretenimento, um passatempo, a não ser que você seja como eu e pretenda trabalhar com algo que envolva o RPG (para mim é a melhor coisa para arranjar inspiração na criação de histórias e personagens). Nesse caso levamos nossas histórias mais à sério e com bastante dedicação, mas mesmo assim é preciso dar uma moderada caso perceba que isso esteja tomando muito de seu tempo ao ponto de interferir em outros aspectos de sua vida. Enfim...

A verdade é que qualquer sistema de rpg pode transformar um jovem influenciável em um nerd bitolado. A diferença está apenas nos gostos, atitudes e claro, bom senso.

Mas apesar do rpg medieval ser o preferido e o mais famoso entre RPGistas, ele não é o mais famoso na sociedade em geral. Existe um tipo mais conhecido de "histórias nerds" ainda mais distinta e mal vista que um fã de magos e dragões. São as histórias futuristas.

3D&T e GURPS

Quando eu jogava uma história de fantasia futurista, terror ou algo mais sci-fi em tempos modernos, estes eram os sistemas mais usados. 3D&T para cenários mais fantasiosos (como muitos animes/mangás) e GURPS para algo mais futurista ou mais próximo do mundo real (Star Wars, Resident Evil, Matrix, Gundam, etc). Claro, eles podem ser usados em uma enorme variedade de mundos e realidades e não apenas estas mencionadas. Além do fato que 3D&T é um sistema extremamente simples, próprio para jogadores iniciantes, mas que logo enche o saco. Enquanto GURPS já chegava a ser complexo demais. Mas enfim, eu quero apenas mencionar sobre aqui as histórias modernas ou futuristas de terror, fantasia ou ficção.

Essa já não é muito minha área, não sou daqueles grupos que amam ficção científica, robôs gigantes, alienígenas ou armas de fogo avançadas, mas conheço bem muita gente que se encaixa nesse perfil.

Os principais exemplos de histórias futuristas são Star Wars e Star Trek. Ah sim, ser fã dessas séries está entre os maiores sinônimos de NERD do mundo! Mesmo que alguns não sejam. Eu pessoalmente gosto de Star Wars e não gosto de Star Trek. Mas como disse, essa não é a minha área. Nunca fui um fã incondicional do estilo então não posso dizer muito. Mas é indispensável mencioná-lo quando se trata de uma análise nerd de RPGs x]

Pessoalmente, quando quero algo mais ligado à realidade eu busco imediatamente o sistema Storyteller.

Storyteller/Storytelling

Ô Belezura! Como RPGista de longa data, digo a vocês que uma boa história no Mundo das Trevas do sistema Storyteller (hoje é chamado de Storytelling, mas para mim é Storyteller eternamente) é algo indispensável para aqueles que curtem um bom RPG. Seja Vampiro, Lobisomem, Mago ou qualquer outro. Falo sem dúvida alguma que esse é o melhor sistema existente que já joguei. Mas apenas como SISTEMA. Em termos de realidade de jogo eu ainda prefiro uma boa fantasia medieval.

O Mundo das Trevas é um mundo melancólico, macabro, podre, feio, triste, corrupto, um reflexo de tudo que há de ruim em nosso mundo real mesmo. Com isso, o jogo atrai um grande número de jogadores góticos, emos, revoltados, anti-socias, enfim, pessoas "dark" de alguma forma. Bem, acho que eu nem precisava mencionar qual é o perigo aqui...

O Storyteller é um sistema que não costuma criar nerds, mas sim criar pessoas mais... digamos, extremistas dentro de algumas tribos urbanas mais anti-sociais. Eu próprio já fui um anti-social, metaleiro bitolado, isolado, revoltado com a sociedade, etc. Isso apenas em minha adolescência, hoje não sou mais, mas não tenho preconceitos contra quem seja. Para mim se cada um ficar na sua, que sejam, façam e falem o que bem quiserem. Contanto que não afete negativamente os outros, já está ótimo.

O problema é quando algum ser inferior resolve bater ou matar alguém dentro de um RPG. Algo que infelizmente ocorre mais dentro desse estilo de história, especialmente se for em um Live Action.

Live Action

Opa! Tirem as crianças da sala, entramos em terreno perigoso aqui! Esse estilo de jogo é um dos principais responsáveis pela enorme má fama que o RPG e os RPGistas possuem.

O Live Action, como já se pode imaginar, é quando os jogadores não apenas falam o que fazem, mas sim o FAZEM realmente. Cada um incorpora seu personagem, utiliza trajes próprios da história e interpreta como em um teatro. Eu já participei de um Live de Vampiro e posso dizer que é bem interessante e divertido. Claro, só dá louco! Mas assim que é bom.

Um Live é algo difícil de se concretizar de forma organizada. No meu caso cada um deu uma graninha para alugarmos um casarão (era uma BAITA duma galera) e deu tudo certinho.

O grande problema dos Live Actions que existem por aí é que vez ou outra aparece um miserável com uma arma de verdade e pronto, bagulho vira caso de polícia.

Isso ocorre muito raramente, mas claro, a imagem de "RPG é coisa do demônio" fica impregnada e é sempre renovada de tempos em tempos com algum outro demente de algum canto do país fazendo alguma merda envolvendo algum RPG.

Uma vez ocorreu de neguinho matar neguinho e uma matéria da TV falar: "O assassino e a vítima eram jogadores de RPG, um tipo de jogo onde o indivíduo pretende ser outra pessoa e possuir outra personalidade, algo muitas vezes ligado a rituais e até satanismo"...

Claro, para variar já tinha gente querendo abolir o RPG no Brasil. E não estou falando de um tiozinho qualquer da esquina, quero dizer gente do Poder Legislativo de nosso país mesmo! Discutindo proibir a venda de livros de RPG, dados com mais de 6 faces ou qualquer coisa que tenha ligação com essa tenebrosa influência do tinhoso.

Apenas uma vez eu gostaria de poder ir para uma dessas emissoras sensacionalistas (ou seja, todas) e falar: "Escutem meu povo, o tal cara não matou o amigo dele porque era RPGista. Ele o matou porque era um ASSASSINO PSICOPATA DOENTE DOS INFERNOS!! OUTRO DIA UM VENDEDOR DE CHURROS ASSASSINOU UMA MULHER NA MINHA CIDADE! VÃO QUERER PROIBIR OS CHURROS TAMBÉM??!!"... Enfim...

Obviamente um Live Action não é algo que possa ser feito facilmente toda semana. Nem mesmo todo mês. Apesar de ter gostado, eu não faço questão de participar de outro, mas quem sabe, se surgir a oportunidade...

Por fim, peço que façam um grande favor a todos, meus companheiros RPGistas. Isso vale para mim mesmo também - se algum dia vocês sentirem aquela vontadezinha de se suicidarem ou de matar uma pessoa, façam isso fora de um jogo de RPG, beleza? Valeu ^^

3 comentários:

Unknown disse...

eh carapuça...

e, sei lah, nunk tive muito saco de ficar jogando RPG...

XD

Bráulio Oliveira disse...

Nossa, artigo foda!

Bela estréia do Arnold em nosso blog, tá de parabéns! o_ó

Thyago disse...

heuaheuaehaeuaehuaeaeuaehuaeh

cara, vc tem q ver como os RPGistas são vistos por 90% dos evangélicos. Chega dá pena...